sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A irritação era a tentativa grosseira de esconder uma tristeza pela qual eu não estava aceitando chorar, talvez por medo. A irritação era a casca espessa que cobria uma tristeza engasgada. A irritação era um disfarce fajuto. Era um desses jeitos transitórios de defesa. Era a manifestação equivocada de uma dor que eu tentei represar. Bobagem isso de contermos, às vezes, o nosso choro. Chorar lava. Cria espaço. Ajuda a desapertar. O embaraço começa é quando não assumimos o sentimento da vez, seja lá qual for.

Algumas tristezas não são tão isoladas como, para facilitar o processo, costumamos considerar. Algumas tristezas doem num volume tão alto que acordam as tristezas vizinhas de porta. Algumas, inclusive, são capazes de acordar andares inteiros da memória, um alvoroço só. Tentamos fugir disso, de várias maneiras, sempre que dá, mas não dá para fugir pra sempre. A fuga é só adiamento quando a dor continua à espreita, inventando disfarces, crescendo em silêncio.

Chorei. Pela tal tristeza e pela vizinhança acordada. A irritação? Que irritação?

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