quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Há sempre o momento de pedir ajuda, de se abrir, de tentar sair do buraco. Mas, antes, é imprescindível passar por uma certa reclusão. Fechar-se em si, reconhecer a dor e aprender com ela. Enfrentá-la sem atuações. Deixar ela escapar pelo nariz, pelos olhos, deixar ela vazar pelo corpo todo, sem pudores. Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade. Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada. Se você está infeliz, recolha-se, não suba ao palco. Disfarçar a dor é dor ainda maior.
"Deixei a porta aberta e você entrou. Ou será que abri a porta justamente para você (só servia você) entrar, invadir ou chegar? Sua falta de jeito com a delicadeza era parecida com a minha e achei tão bonitinho isso. Nem grosso demais e nem polido demais, porque pisar em ovos é um saco. Não te pedi nada, só que me tratasse bem. Até hoje não te cobro e nem peço nada que seja esquisito demais ou dê muito trabalho. Não grite comigo porque eu também sou pavio curto. Respeite minha preguiça matutina e eu entro no seu ritmo também preguiçoso. Conte suas novidades, faça massagens nos meus pés e não tenha medo de quem toma Rivotril pra dormir. Virei presa fácil, barata até, você se esforçará pouco para me ter para sempre. Acredite quando eu digo que é melhor com você. Não duvide do que eu digo mas prometo que se a verdade for chata, feia e boba, eu escondo. Não me conte as suas tristezas porque eu também disfarço as minhas. Prometo segurar o choro, mas se ele vier, fica do meu lado, segura a minha mão. Tem hora, quem hoje, que eu só preciso que você segure na minha mão. Não tente me agradar porque eu odeio gente boazinha. Seja mais inteligente do que os outros e diga as coisas de que gosto de ouvir. Vou te achar o máximo. Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a mesmice, xingue a vida doméstica e também os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes. Me enlouqueça não ligando de vez em quando. Mas me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... Nunca deixe eu dirigir o seu carro, diga que não confia, só pra eu ficar meia hora com raiva de você. Seja só um pouquinho canalha e olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Me trate como uma rameira, mas só quando estivermos deitados. No dia-a-dia fale palavras doces, principalmente hoje. Não me magoe com ironias porque não sou nem um pouco altruísta e posso sentir raiva por ter deixado a porta aberta."

Martha Medeiros

domingo, 9 de janeiro de 2011

Proibida ficar triste!

Minha doçura,
não não não, está proibida de ficar triste, pro-i-bi-da! Pirou? Perdeu a noção do perigo?Caramba, como é que uma mulher como você pode se deixar abater? Puta que pariu, você não pode ficar abalada desse jeito! Não você! Você desmoronar é o prenúncio do fim do mundo, proíbo, não deixo. Ahhhhhhh, tá bom. Sei que é foda. Dor de cotovelo é pior que arrancar um siso, pior que fratura exposta - aliás, é uma fratura exposta. A gente fica ali vendo o osso pra fora, doendo feito a morte, e pensando se a coisa vai voltar pro lugar, se vamos andar de novo, se é possível tocar a vida sem se sentir um aleijado. Pô, se você não conseguir, quem vai? Chore escondido, se esparrame na cama e molhe o travesseiro, faça aquele número que todo mundo conhece: chamar a si mesma de imbecil e decretar que nunca mais, nunca mais... Ora, nunca mais amar, nunca mais acreditar nas palavras bonitas desses sacanas, nunca mais tudo! Dê seu show particular, reprise o dramalhão algumas noites, e depois enxugue essas lágrimas e volte pra vida. Pra vida! Elé é o único homem do mundo? Não, né? Você já fez tanto por você, já foi tão longe, não vai entregar os pontos agora, nem pensar. Gostando ou não, prometa que vai esta semana entrar numa loja bem cara e sair de lá com um monte de roupas que você não sabe onde irá usar. Ajuda, claro que ajuda. E nem ouse ler os e-mails dele, ver as fotos dele, lembrar dele! Lobodomia autorizada, lacre essa parte do cérebro, a da memória. Não lembre nada, não viva pra trás: planeje! Foque no futuro: uma viagem, um projeto profissional, novos amigos, novos hábitos! Encoraje-se, o verão está chegando e você está magra, magérrima! Bote esse corpão numa praia espalhe esse sorriso lindo e você vai ver o que acontece! Não pergunte por mim, eu poderia ser animadora de auditório, mas quando se trata da minha própria vida é uma desolação. Mas eu me acostumei com isso e nem dou mais bola, mas você, você é de outra linhagem. O que posso fazer de concreto a não ser te botar essa pilha inútil? Pensa que eu não sei que palavras não servem pra nada? Pra nada. Sofrer por amor é um atraso de vida, e não há remédio que entorpeça a dor, que amenize, que anestesie, nada, nada, antidepressivo não funciona nessa hora, e cocaína não ouse... A indústria farmacêutica ainda está muito atrasada em relação à corações feridos, não acha? Psiquiatra, que tal? Conheço você, é durona, vai resistir, vai sobreviver a mais essa rasteira. Eu sei de pelo menos três homens alucinados por você, que largariam família, emprego, amante, saltariam de um foguete em movimento para voltar pra Terra e te pegar, então escuta, trata de sentar, respirar, ficar bonitinha e avaliar os candidatos. Tô enxergando você aí puta da vida do outro lado, dizendo que não quer saber de ninguém, só dele... Esses homens! Como ficam importantes depois que somem. Antes você nem dava muita bola pra ele, agora olhe você. Vai superar, belezoca. Um pouquinho de paciência e champanhe e você melhora rapidinho. (...)"

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Já notou que sinto sua falta?
Ou acha que toda vez que ligo é por engano?"

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Encontros, reencontros, desencontros...
Que porção mágica é esta que a vida me prepara?