quinta-feira, 24 de junho de 2010

O fim...nosso fim....

(...)O carro parou. E por um minuto ela sentiu como se também tivesse parado seu coração. Ficou sem fôlego, os olhos marejaram com um aperto na garganta que denunciava a conclusão da história. Tanta coisa resumida em um breve momento de despedida.

Pensou em aproveitar a última vez, em passar as mãos trêmulas por cada um dos pedacinhos do corpo dele, pensou em sugar todas as possibilidades de lembrança que aquele dia ia virar para ela. Mas não conseguiu. Simplesmente não conseguiu.

Nenhum dos dois podia dizer nada. E mesmo que dissessem, nenhuma palavra conseguiria quebrar o silêncio que havia entre eles, agora. Se olharam rápido porque os olhos entregam todas as coisas quando estão afogados nas lembranças. Nenhuma lágrima podia cair e mesmo que caísse, nenhum deles ia notar porque o ar estava quente, as mãos geladas e os olhos baixos, de novo.

Ela passou a mão pela nuca dele, agarrou o maxilar e levantou sua cabeça para a altura da dela. Sentiu que alguém tinha que ter coragem de terminar as coisas dignamente. Decidiu, então, que não há nada mais digno, nessa vida, do que um beijo. E foi isso que ela fez. Um beijo.

Desceu do carro e não olhou para trás. Ela nunca mais olhou para trás.

Tantas coisas ficaram perdidas lá, naquele dia, junto com a casa, a estrada, o carro, as lembranças e ele. Tantas vezes iria ainda pensar, ela, em como teria sido se ao invés da mudez, tivessem havido palavras e se os olhos não tivessem gritado o desespero, e as coisas pudessem ter sido resolvidas na franqueza de um simples diálogo que foi devorado por sua incapacidade de olhar pra trás.

O medo de uma solução paralisou a vontade dele, a dela. A vontade que tinham – os dois – dos dois. O medo de uma solução preencheu o vazio e eles assistiram calados o romper de tudo, num segundo. O medo deles foi definitivo.

E não tinha volta daquela vez. A partir do momento que ela ultrapassou aquela porta, ela sabia.

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